sábado, outubro 14, 2006

fui lenhador

Lilya Corneli

tinha de trabalhar. estudar? ali para quê? e tinha de por o pão na mesa fria. também podia ter-me ido embora e deixado a minha mãe ser louva-a-deus onde ele a ouvisse .

sei que não foi por bondade que me dei ao trabalho de trabalhar. foi por causa de um poster na parede. com umas pernas caídas numa oferta, que vê-las só por si fazia-me homem a qualquer hora do dia.

cortar árvores é fácil. vê-las cair com estrondo já não é. tive sorte em saber ler. empreguei-me na farmácia da terra. nem aí precisava da leitura para nada porque só fazia entregas ao domicílio.

na primeira entrega tive sorte de principiante. a mulher vivia longe do povoado e eu perdi-me. ela ofereceu-se para me levar a casa.


Lilya Corneli

usava uma bengala sem ser cega, tinha sede quando lá chegámos. disse-lhe que entrasse. a minha mãe saiu. abençoada hora!

-não fico nesta casa com uma mulher de má fama.

fiquei eu. não era cega, mas todo o meu corpo ficou a saber como os cegos tocam quem anseia por eles. a troco de um copo de água. e de muitos gemidos de um prazer tão novo como eu.

não sabia o que dizer no fim, por isso disse-lhe: - obrigado. - isso tinha aprendido a dizer se me dessem alguma coisa boa. quando fechei a porta descobri que a fama era ainda melhor do que o pecado.

a fotografia da irmã que nunca tive, mudou a cor dos cabelos quando a olhava e o poster já não tinha só pernas - era de corpo inteiro.

sexta-feira, outubro 13, 2006

a aldeia.

Andrea Morelli

a aldeia onde nasci era pequena e numa encosta. tudo era inclinado excepto o sol que quando se punha era rapidamente e em perpendicular por trás do outro monte.

a minha minha mãe é uma louva-a-deus, por isso tive pai por pouco tempo. coisas da natureza.

a casa tinha uma cozinha e dois quartos de madeira, pequenos.

não havia muitas raparigas. só mulheres feitas. pouca gente nascera quando eu nasci. vim por certo fora do tempo já.

havia na minha casa uma fotografia de uma rapariga com uns cabelos lindos. foi a minha primeira namorada.

sbdm zhu

passava horas encantadas a olhá-la.

um dia a louva-a-deus disse-me assim:

- gostas muito dela , não é filho?

- gosto. namoro-a. quando formos grandes havemos de casar.

- cala-te maldito! isso é pecado! podes lá namorar a tua irmã?

mas eu não tinha irmã. vivia na cabana de madeira sozinho com ela e ela tinha-me a mim como quem não tem ninguém.

aprendi que pecava por amar os cabelos de uma irmã que não tinha.

aprendi a gostar mais de cabelos de raparigas e que era muito doce o sabor do pecado. naquele dia.


quinta-feira, outubro 12, 2006

não disse.

Alina Lebedeva

coisas de rapaz meio homem ou armado nisso. mas apeteceu-me gritar-lhe: - não te dispas!

há horas em que a sensibilidade dos homens não desce rápido onde as mulheres pensam. foi o caso. mas não disse. deixei-me ir ao sabor dos gestos dela, dos dedos sábios dela a despir-se, despindo-me. lenta. cobra. sibilante como o meu cio estaria nesta hora se não tivesse na cabeça aquele momento. tenho. mesmo assim vou-me deixando enovelar. este aroma nos cabelos...

os cabelos dela.

os teus cabelos.


urbangrey

os cabelos dela roçam-me o peito como teias leves de uma aranha quente.

os teus roçavam-te o rosto numa tarde de vento numa cidade nova. depois de os ver tudo parecia novo. foi a primeira vez que tive vontade de parar.

o orgasmo aliviou-me o corpo.

os teus cabelos...


segunda-feira, outubro 09, 2006

o porquê de estar aqui

R. Ollivier

estar aqui ou estar no topo das crateras do diabo não é bem igual, eu sei. mas é um salto para mim. porque estar aqui é expor-me. muito ou pouco ainda não sei. não foi para isso que vim. vim ao prazer de escrever sem ser em papéis que rasgo por fastio ou por descrença em quase tudo o que faço.

porque salto? porque é assim que vivo desde há muito e sem sequer me dar conta que o fazia.

saltar o sonho para quê? - eu cansei de fantasia. só aquelas que eu criar, se souber criar alguma e só para me distrair nas horas baças do emprego, este fado onde me enfado de não ser coisa nenhuma mais que um número na estatísca do ministério X.

se alguém passar por aqui. não se incomode a bater. entre e faça o que entender. não procuro comentários nem cultivar amizades. sou um bicho solitário a saltar, na realidade. não paro em lugar nenhum e não me prendo a ninguém.

mesmo assim, seja benvindo todo o que vier por bem.

hoje fico por aqui. se volto amanhã, não sei.


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