sexta-feira, novembro 03, 2006
salto umas investidas.
entretanto, além de cortar o matagal da estufa aprendia-se pouco por ali.
nicole cherubini
excepto a manipular e guardar objectos para lá de inúteis mas bonitos, não me recordo de nada que valha ser lembrado. isto até ao dia em que a mulher vestida de preto, a Eva, (raio de nome!) me deixou um bilhete por baixo da porta a marcar dia e hora no jardim. esperei uma daquelas noites de fundir até ferro.
nada disso. o encontro era no meio da mata. junto ao altar velho na entrada de uma gruta de não sei lá que século. coisa abandonada há muito tempo. antes mesmo de as donas serem elas.
at Opacity
já por lá tínhamos andado em boas fainas. daí não ter estranhado. com imolações daquelas já eu podia bem. pior foi a conversa que seguiu.
- tu hoje, haja o que houver, não fazes nada. assistes porque eu gosto de te saber aqui. mas nem tentes ser visto.
- mas se somos só dois...
- isso é agora. vai para a gruta e fecha a alma a cadeado. a alma e sobretudo a boca. sais só quando eu disser.
e daí em diante só vi chegar mulheres. de preto. todas. eu gosto de mulheres. pois mesmo assim havia pelo ar algo que me assustava. a mim! pode isto ser?
terça-feira, outubro 31, 2006
meios caminhos.
rapaz para todo o serviço, pensei eu. mas ainda lhe tinha o paladar na boca e não reagi com a brusquidão que ela merecia. acompanhei-a ao longo do corredor de gelar uma sopa a ferver. isto sem me lembrar que ela era neta da velha-camafeu . a gente não se lembra de nada quando está convencido que funciona bem e é desejado. asneira.
dei-lhe um beijo na testa e fui arrefecer-me para o jardim . aquela cena do beijo casto faria rir até o meu pai-padre.
estava eu a sentir-me acocorado a meio caminho, quando me veio aquela sensação de estar a ser olhado. pesquisei tanto quanto a falta de luz por ali permitia e dei de caras com a desmaiada do dia anterior a espreitar-me.
Lara Jade
aquilo era mais sofisticado. deu para ver só pela pintura dos olhos e os contornos da boca. vestia tão de escuro como a noite. daí não a ter visto na passagem. o que me queria não fiquei para saber. passou-me sei lá o quê pela cabeça e atirei-lhe um:
- buuuh!
de nem espantar pardais. só para me rir. estava a ficar nervoso com a procura. não me envergonho de o confessar agora. voltei para o quarto e demorei muito a adormecer. tanta água depois de uma vida de secura é no que dá.
segunda-feira, outubro 30, 2006
não eram três.
olhou-me como eu olhei a outra, a que pulou para o alto e que, parecia já ter passado uma eternidade, me desvirginara na casa da minha mãe.
- sou margarida.
Christiane Pinnekamp
podem rir a vontade. até eu me riria se não me estivesse a arrepiar todo enquanto conto.
eu ali. garanhão de crina ao vento. a ser o primeiro. pela primeira vez.
o trabalho
Volokin
limpinho já. fui levado pelo velho, à zona nobre do castelo. primeiro encontro com o camafeu.
encontro à distância e ainda bem. é que se lhe vissem o tamanho temeriam como eu, um encontrão com ela.
- vens da parte do meu sobrinho e só por isso deixo cá entrar um rapaz novo.
com que então sou da família e tu nem sabes! - eu a rir cá por dentro. era a minha vingança contra aquela mania de me chamarem rapaz.
- como vens da aldeia começas por limpar a estufa, que foi abandonada quando o meu filho teve a ideia absurda de se mudar para a cidade. de ervas deves saber.
a velha estava a por-me estragado. de ervas entendem carneiros e os burros. lembrei-me dos encontros da véspera e resisti a saltar dali naquele instante.
fui despachado. sua fealdade excelentíssima mal me olhara durante a conversa.
o resto da manhã passei-o na estufa velha.
um belo esconderijo para acabar de dormir.
de salário nem uma palavra! - lembrei-me, antes de cair ferrado com a cabeça sobre uma almofada de hera.
nessa manhã pouco aprendi. valha a verdade. mas ainda tinha todo o resto do dia.
eu tenho sempre de aprender. seja o que for. para isso é que se é novo. ou não será?