quarta-feira, novembro 15, 2006

rir.

Birkir Ingibergsson

queriam rir do louco. riram. mas desta vez pagaram.

se eles cresceram eu não ia minguar. cambada de tratantes! tinha de voltar nem que fosse uma vez para me vingar.

e o segredo? conta!

palermagem. segredos e mistérios que os peçam ao meu pai ou a outro palhaço da mesma profissão.

de que e que eu estou a rir?

da minha infância com eles a correr atrás de mim?

filho-de-padre! filho-de-padre!

disso não é. parece que ainda os oiço.

john rosenthal

e eu a virar as costas e a não querer ouvir. e a fugir e a querer acreditar que se um padre representa Deus então eu era mais filho de Deus que os outros eram.

a querer. a querer. a querer. até subir para uma cadeira para chegar ao céu. fugir para lá!


john rosenthal

nenhum braço estendido. nem um piu. penso que se Outro fosse parceiro de se fazer ouvir havia de dizer:

- vai chamar pai a outro e deixa-me dormir.

vou mas é parar com as lamentações e esconder o dinheiro. anda mais malandragem por aí que gente séria. eu quero a moto. sobre isso não estava eu a brincar.

a esta hora já tenho a porta do curral aberta para o garanhão entrar. pelo menos por lá fornicação e manjedora não me faltam. com céu ou sem ele hei-de sobreviver.


o segredo. a aposta.

deixem-se lá de histórias. paguem e pronto. aposta é aposta e a melhor história de vida foi a minha. vocês não saíram da gabarolice e dos bailes de aldeia.

quê? o segredo?

mas qual segredo homens?

olha lá, não saias de fininho que ainda não pagaste, tu aí!


alexsaberi

ah. pois. o segredo que eu ia desvendar do meu pai-padre ser um milagreiro...

então reparem bem. o padre era de carne e osso. a minha mãe também. e eu ainda que não pareça, mas é só por disfarce, sou o super-homem.

se não for um milagre, o que é que pode ser?

deixem de protestar. eheh. se eu não tivesse falado num segredo não tinham esperado tanto para me ouvir.

bem. estou de partida. as mulheres estão à espera. hoje foi dia livre. nos outros, tenho muitas histórias para contar. o meu fito é outro agora. uma moto. e se eu não ganhar uns extras nunca lá vou chegar.

eu nunca vou desistir de ser rico. é uma pontaria minha. nisso também podem apostar.

gostei deste bocado.

olha. está a chover. que raio de tempo! e o que eu ainda tenho para andar...

terça-feira, novembro 14, 2006

primaveras no outono

urbangrey

quando consegui descer as escadas todas do raio do castelo e chegar ao jardim, já o carro dela levantava as pedras da alameda de saída. ou de entrada consoante o caso.

dei comigo a correr atrás do automóvel. como um gaiato. perdi-o de vista claro. era dos de boa cilindrada. nem por isso parei. corri os muitos metros que me separavam da paragem de autocarro. já fora do portão grande.
não avisei ninguém e segui atrás dela. o coração batia-me como um martelo nas artérias. aquelas do pescoço. não aprendi o nome. ainda...a velha não vai deixar que eu pare de estudar.

escapou-se-me várias vezes da vista o carro preto. sorte ter ela de parar para meter gasolina e petiscar. aí ganhei-lhe avanço. a estrada era erma e só parámos perto da cidade. chovia.

urbangrey

segui-a. ia apressada. entrou num prédio velho. estranhei isso. as visitas da casa eram ricas. não pensei muito tempo. queria lá saber disso. queria era vê-la mais de perto. apareceu à janela. tive uma esperança estúpida de que fosse para me ver. devia ter-me sentido a correr-lhe bem nas solas do andar, quando arranjou onde meter o mercedes.

qual quê! fixava atentamente a rua. procurava. esperava. mas não. não era a mim. nem quando olhou na minha direcção me viu.

aquela boca. aqueles olhos. o cabelo! e eu minado por um tremor da cabeça aos pés. tão infantil. como no primeiro dia de escola.

urbangrey.

saiu da janela velha do andar velho. abriu a porta velha e inundou de sol com os cabelos, a tarde chuvosa onde eu, que nem basbaque, escorria água como pato sem penas.

as ondas batiam na amurada e molhavam o passeio. ela ficou lá. olhando o mar. e eu estátua. ali. a vê-la como se olha uma aparição. ou deve olhar.

pior foi ver aproximar-se um meco tamanho gigante que a agarrou pela cintura e a levou dali.

pior foi isso.

depois voltar a pé para o casarão. só tinha dinheiro no bolso para uma passagem de ida. e saíra sem vontade de voltar.

voltei. a macieira estava à minha espera. cheia de maçãs do demónio. a tentar. a tentar.

*
os teus cabelos!

domingo, novembro 12, 2006

com pouco trabalho. no jardim.

Jean-Batiste Dege

consegui concretizar o sonho que me levara até ali, uns tenis nike.

comprei-os bem branquinhos contra a vontade do mulherio de preto. que se danassem! o esforço fora meu. e se o jardim ia devagarinho já o fogo que as incendiava acendia e apagava como um pirilampo noite a noite e mesmo dia a dia.

o mágico era eu.

andava com o ego mais inchado que fígado de bêbado. adiante. nunca me julguei santo e nunca acreditei nos tipos que se fazem disso.

o que eu estava era à beira do enjoo. de morenas. pior: de morenas vestidas de preto. rituais e outras cenas na floresta.

Theater Of Cruelty Noh Assakra

a velha-camafeu, que eu imaginava a arrancar cabeças a bonecas como quem come pipocas. desde tenra infância, lá me deu uma pilha de livros para ler.

como se me sobrasse ainda tempo! sorte era ser novo. sou ainda. mas nem sei como sobrevivi.

urbangrey

foi assim que a vi.. estando eu concentrado na leitura a olhar pela janela da biblioteca as cores de outono. caíram-me os olhos num garfo de árvore.

uma saia de ganga sentara-se no tronco.

nada de preto. só aqueles cabelos! a saia azul o top e a pele branca.

e eu babado a desmaiar de paixão como uma donzela! pronto a matar e a morrer por ela.

foi tiro e queda minha. sem ela sequer olhar para mim...

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