domingo, dezembro 24, 2006

vá-se lá tomar decisões... no NataL.

estava eu pleno das melhores intenções. pleno de graça. a ponto de cantar o "avé maria" , quando me entra a realidade porta adentro.

era a mais velha. a que mal provei. mas engravidei. disse ela até ao fim.

- tenho mais três irmãs. sou eu a primogénita. estamos todas a abrir-nos como româs maduras. prontas a soltar a semente que o fruto contém e que, os homens,em regra sorvem e cospem a seguir.


Katia Chausheva

aqui não é assim.

é a avó quem decide. decidiu. casarás comigo por ser eu a mais velha. os meus sobrinhos serão teus afilhados. como tu és afilhado do padre. ou não sabias?

(e não sabia mesmo. bruxinha de fazer doer a carne à gente! grávida ou não!)


- e as outras?

atrevi-me eu a perguntar.

- as minhas irmãs terão os mesmos direitos e deveres perante ti. só na forma não pode ser assim. afinal não és mouro, que eu saiba... ou serás?

e ria. a bom rir a engraçada!

sorri. como um palhaço triste e assim andei até à véspera de Natal.

estava organizado o casamento.




Anaïs Anaïs


nem nos véus. negros. tive eu opinão.

pior é que estava a gostar disso.

engano o de quem pensa que em mundo de muitas mulheres é o homem senhor.

malta. deixem-me rir!

elas são como os padres: sabem-na toda! mesmo!



at cathychurch.


em baixo à árvore ornamentada a pratas e a ouros casou-nos o pai-padre. e desejou-me sorte.


foi a primeira vez que me ri. ali. na cara dele .

nem piou.

a minha mãe não tinha sido convidada. não estava lá, portanto.

ah, mas as minhas mulheres sorriam. prenhes de mim e de uma alegria que me fazia pensar estar próximo de Deus.


urbangrey

até começarem a chegar os convidados para a recepção...

não vi mais do que a ti. aos teus cabelos! depois disso ceguei.

que raio de presente de Natal!

que faço eu contigo, minha sardenta ruiva?

meu amor!




fim de um salto: Natal e família!


segunda-feira, dezembro 11, 2006

ena, homens!

Paula Grenside

com os bofes a saltar-me pela boca, encurtei caminho direito a um bar e, ao som de um album que também havia no castelo, entendi uma quantidade de coisas, enquanto me enfrascava em whisky francês, não, isso é o champanhe.
bom, fosse lá o que fosse que eu bebi, e que foi muito foi, saí de lá com convicção e a cantar " i don't need to be the king of the world!"!

não me perguntem o nome do album. agora já me lembro, mas nunca fui pedante. sei do que sei e pronto.

por isso vamos às verdades: de mulheres estava eu a começar a saber.

até da minha mãe. porra de vida!

"i can face the world!" o mundo e mais a feiticeira mor e mais a minha mãe! é dose de urso.


Jean Francois

e como sempre fui um profundo defensor da natureza com uma perdilecção pelas macieiras, não ia deixar cair uma maçã em solo errado. podia e ia afectar a arquitectura paisagística.


caramba! esta saiu-me bem!

e já que a louva-a-deus me insinuara que seguisse o meu pai e, confiando eu nela quase tanto quanto nos políticos que oiço na TV, decidi contrariar as previsões de todos.


Biliana Rakocevic

ela, a feiticeira, dizia ser o espírito da floresta. acreditei. via-a de caminho e de caminho, decidi papá-la como gato a ave distraída.

assim, de chofre, sem marcação escrita. já que era pai que o fosse mas... mandasse no destino a que o harém pensara ter-me condenado.

padres sabem-na toda! ouvi isso a um tipo na taberna e vai de aproveitar!

fui directo à estufa. por essa altura já cuidada e regadinha e, aguardei.

ou eu era o Mário Soares reencarnado, ou uma delas havia de aparecer.


quinta-feira, dezembro 07, 2006

Indigestão

luminous-landscape

eu sei. a culpa é minha até um fruto inocente como a maçã pode ser perigoso se devorado em excesso. mas o feito está feito. tenho é de sair desta.


estava eu nestas congeminações quando vejo um papel atirado pela ranhura da porta. era da feiticeira mor a marcar-me encontro na estufa depois de almoço. eu não sou medroso podem crer. mas correu-me um arrepio pela espinha acima.

- ná. pai de outro não! e logo dela!

ela era linda. e quente e essas coisas de que um homem gosta. um homem como eu. mas daí a deitar-me com ela e com o grupo das amigas dos feitiços ia um salto de canguru. só imaginava já a capoeira toda a correr atrás de mim de criancinha ao colo. a berrar pelo pai. não esperei pela quarta mana e fiz-me à vida.

por já ter outro par, por essa altura, atirei com os ténis para bem longe como se a praga que me seguia viesse deles.

Tegtto

e decidi mesmo ir à cata da minha mãe. afinal melhor que ela não podia haver para me aconselhar.

quando a vi mal a reconheci. parecia uma senhora nascida na cidade. o porte. a vestimenta. um doce a quem apetecia mesmo chamar mamã.
a minha louva-a-deus.
Deus a louvasse! nunca imaginei poder amá-la tanto. ao que a necessidade e o desespero nos podem levar...

geraint smith


- mãe! ó mãe! espere aí.

nem se virou. não se lembraria já de ter parido um filho? fosse de padre ou não, era o que eu era, porra!

- baixa o sonoro que não estás na aldeia! só me faltava este! estavas mal no castelo? querias vida melhor? pois já a tens. o que é que queres agora? mais legos ou uma trotineta? pede agora que hoje estou de maré.


falou de uma assentada sem perder o fôlego

engasguei-me eu literalmente com a saliva até entrar em quase convulsão.

- baixa a cabeça. deita isso para fora.

nem uma pancadinha nas costas para apoiar. levaria dali alguma coisa? a dúvida subia ao ritmo do engasganço. até que por fim consegui respirar.

- mãe. disse eu num tom de menino jesus nas palhinhas e tudo. - duas estão grávidas. dizem que sou o pai.

- olha, rapaz, uma certeza tenho, eu não sou. e que queres tu que eu faça? ou que desfaça?

- o que é que eu faço, mãe?

- se casar com as duas não podes, deita à sorte. ou mais fácil ainda, faz como o teu pai.

- e isso é como? nunca me chamou filho?...

- aí tens a resposta. ou não. que a vida é tua. eu vou à minha agora. ah e não preciso de ninguém a chamar-me avó. entendido?

(louva-a-deus! louva-a-deus! louva-a deus!...) e foi a resmorder isto com raiva, que voltei pelo caminho que para lá me levou.

estava frito em azeite. e nem virgem ele era.

quinta-feira, novembro 30, 2006

valha-me o céu.

B Berenika

andei para ali como animal abandonado nas férias em estrada erma.

não conseguia imaginar um pirralho ranhoso ou não a agarrar-me as calças e a dizer aos berros - ó pai! - é que nem morto!

tinha de haver uma saída. fui até à minha terra. sem avisar ninguém. acreditem ou não, faziam-me falta as saias da minha mãe. não seria uma doçura de gente mas tinha sempre solução para tudo.

bem, a última tinha sido dar de sola mas eu também andava a pedi-las há uns tempos e ela tinha o direito à vida dela.


Bartek Bojes

a aldeia que já era vila, soube-me a gemada com cerveja. coisa que eu adorava quando o frio apertava por aquelas bandas.

- o raio do castelo as fêmeas e os ténis vão-me sair caros. ai vão vão...

nada de mãe. é de imaginar. voltei para casa tão neura como saíra. ou pior. os conhecidos disseram em que cidade ela vivia agora mas, sem dizer nada à mulherada e áquelas horas, não tive outra saída. acastelei-me.

comprei uma garrafa de Macieira. na bendita pensão onde gastara o primeiro ordenado.

fui para o meu quarto prová-la até lhe ver o fundo.

só que nunca era eu dono de mim, naquele espaço. entra-me a independente pela porta. o que lhe ouvi deu-me vontade de engolir não a aguardente mas o gargalo e tudo:

- nunca te falei do que fazemos. nem é caso para isso. normalmente. hoje e só de passagem penso que mereces. vou ter um filho e o escultor és tu.

saiu. eu dei um salto tal que bati com a cabeça no tecto. literalmente. continuei a saltar e a bater até cair na cama. atordoado e com a tola num bolo.

- merda! isto só pode acontecer por maldição!


M Karez

era das quatro a de quem mais gostava. e chamou-me escultor...
até eu sou capaz de sentimentos. comoveu-me a expressão.

mas comovido ou não, ser pai de dois em duas deu-me a volta ao miolo.

tinha de encontrar a minha mãe.

- ó mãe! olhe elas!

dei eu em gritar. e se era tarde já!

segunda-feira, novembro 27, 2006

como um pássaro

Cam

começou a migração das aves. deu-me uma vontade terrível de saltar dali. isto de andar a salto de cama em cama já cansava. ruivas morenas, que diferença faz?

bem, convenhamos que as sardazinhas da ruiva me fizeram aprender preâmbulos. como ir descendo a boca de ponto em ponto escuro pelo corpo branco até a enlouquecer. gosto de deixar uma mulher a sufocar de tal maneira que quase mendigue que lhe apague a chama. sinto-me rei e senhor desse momento. e dou-me, até poder.

Renya Jozwik

estava eu entretido nestes pensamentos de ficar ou partir, quando me entra a mais bonita delas porta dentro. com um sorriso doce de homem desconfiar.
engalanada como quem vai para a festa.

- sabes. vou dar-te uma alegria. vais ser pai.

- eu quê?!

a exclamação deve ter passado a porta e ecoado no corredor. ouviram-se passos das outras a correr até junto de nós. não entraram. vá lá...

- menos mal. antes pai do que avô.

sabia lá eu que responder áquilo?

já tinha lido sobre consaguinidade mas ainda não sabia se era do sangue dela ou não. fosse lá como fosse essa de ser pai não estava no programa. nunca esteve. tinham elas prometido e eu confiei.
confiar. tomei nota na agenda da cabeça sem juízo: palavrinha a esquecer!
e como entrou, saiu. fiquei para ali tal qual um moribundo.

que ideia de alegria tinha aquela mulher! com que cara me diria estás condenado à morte?
é que era assim que me sentia. podem crer.

domingo, novembro 26, 2006

hoje uma flor.

By Howie Choo


quinta-feira, novembro 23, 2006

com elas ou sem elas

B Berenika

dei em andar para ali que nem um tronco. daqueles que não se sabe de onde vêm e dão à costa. como uma mulher romântica ou um António Nobre antes da morte. parvo mesmo! não estranhem. aprendi a citar de tanto a velha me obrigar a ler.

aí, as fêmeas entraram em histeria. uma daquelas que a mim teria sabido que nem ginginha com elas se não fosse a apatia em que vivia.

davam-me tudo. ou quase. e eu em pasmo. sem reacção. sem um lamber de beiços natural com tanta guloseima.

fordmanf1

o camafeu deu-me uma bíblia e um terço bento. se calhar tinha sido o meu pai a abençoá-lo. aí deu-me uma certa vontade de rir. mas fiquei pelo certa vontade. rir que é bom, nada.

elas deram-me ténis das melhores marcas e cores. nada.

estava decidido a desistir de enriquecer ali e até de saber o que me levara ao castelo. estava decidido a migrar mas sem rumo. que rumo até as aves têm.

disse-lhes isso. uma por uma. até ao velho mordomo avisei entre dentes como quem lhe rosna. assim ia informar a dona e eu não ia ter de a aturar.

foi então que a virgem que o fora até eu lhe fazer o favor de lhe acabar com a má sina, me apresentou uma ruiva. isto sem mais aquelas. assim, de sopetão. toma lá e não dês cá nada. parecia ela dizer. só não te vás embora senão quem volta ao degredo sou eu.

Adam Orzechowski

bem. eu romântico andava. mas morto não. e a minha curiosidade sobre as ruivas estava pela altura do himalaia.

fiquei. por mais um tempo. numa de logo se vê.

os sacríficios que um homem faz para agradar às mulheres!

agora vou trabalhar para o jardim que já ando há tempo demais sem ar puro e ainda fico com cara de fantasma.


segunda-feira, novembro 20, 2006

ando. às escuras.

donnie mackay

não estou nada bem hoje. certo. ontem bebi e a gente sempre paga o pato que comeu. se é pobre. tudo bem.
onde as coisas pioraram foi quando esta manhã vi um carneiro montez e achei que me estava a ver ao espelho.

porra! disse eu e em voz alta mesmo. o que é que eu ainda aqui estou a fazer? não estará já na hora de dar o salto daqui antes que me suguem a medula?


Sabine L


não sei o que me deu ontem quando vi uma das irmãs, logo a mais velha, à espera, no meu quarto.

debitei-lhe toda a minha paixão pela ruiva desconhecida.

a louca ria. só ria. ria e esperava a sua vez. é um raio de uma qualidade das mulheres: esperar. devem ter aprendido isso ao longo dos tempos na espera de parir.

esperam e ganham sempre com isso. pelo menos esta ganhou.

quando a vi rir. de mim. atirei-me a ela que nem gato a bofe! nunca ela me tinha sabido tão bem. nunca.


Michael Wayand

mas eu queria-a a ela ou queria vingança do rir dela ou queria a moto? digam-me vocês que estudaram. digam lá!

a moto!

pois. vi-a nas mãos de um gorila que apareceu lá para as sessões de magia. voou com uma das bruxas-sem-vassora naquela máquina.

*

este cheiro que trago nas narinas é teu. só teu. sabias? e nem sequer me aproximei de ti.

não tem nada de velas pretas. rendas pretas. cheira a pele branca. a olhos lavados. cheira a esses cabelos quase encarnados. cheira a...

cheira a uma pureza-desdém e sem nenhuma oferta. é disso que sem conhecer tenho saudades.

qual será o odor dos teus cabelos?

*

vou ter de descobrir o que há em comum entre mim e esta gente. porque foi que o padre-pai me mandou para cá? antes disso não salto. antes não!

*

mas é urgente reencontrar-te, mulher!

ou nunca serei homem digno desse nome.


quarta-feira, novembro 15, 2006

rir.

Birkir Ingibergsson

queriam rir do louco. riram. mas desta vez pagaram.

se eles cresceram eu não ia minguar. cambada de tratantes! tinha de voltar nem que fosse uma vez para me vingar.

e o segredo? conta!

palermagem. segredos e mistérios que os peçam ao meu pai ou a outro palhaço da mesma profissão.

de que e que eu estou a rir?

da minha infância com eles a correr atrás de mim?

filho-de-padre! filho-de-padre!

disso não é. parece que ainda os oiço.

john rosenthal

e eu a virar as costas e a não querer ouvir. e a fugir e a querer acreditar que se um padre representa Deus então eu era mais filho de Deus que os outros eram.

a querer. a querer. a querer. até subir para uma cadeira para chegar ao céu. fugir para lá!


john rosenthal

nenhum braço estendido. nem um piu. penso que se Outro fosse parceiro de se fazer ouvir havia de dizer:

- vai chamar pai a outro e deixa-me dormir.

vou mas é parar com as lamentações e esconder o dinheiro. anda mais malandragem por aí que gente séria. eu quero a moto. sobre isso não estava eu a brincar.

a esta hora já tenho a porta do curral aberta para o garanhão entrar. pelo menos por lá fornicação e manjedora não me faltam. com céu ou sem ele hei-de sobreviver.


o segredo. a aposta.

deixem-se lá de histórias. paguem e pronto. aposta é aposta e a melhor história de vida foi a minha. vocês não saíram da gabarolice e dos bailes de aldeia.

quê? o segredo?

mas qual segredo homens?

olha lá, não saias de fininho que ainda não pagaste, tu aí!


alexsaberi

ah. pois. o segredo que eu ia desvendar do meu pai-padre ser um milagreiro...

então reparem bem. o padre era de carne e osso. a minha mãe também. e eu ainda que não pareça, mas é só por disfarce, sou o super-homem.

se não for um milagre, o que é que pode ser?

deixem de protestar. eheh. se eu não tivesse falado num segredo não tinham esperado tanto para me ouvir.

bem. estou de partida. as mulheres estão à espera. hoje foi dia livre. nos outros, tenho muitas histórias para contar. o meu fito é outro agora. uma moto. e se eu não ganhar uns extras nunca lá vou chegar.

eu nunca vou desistir de ser rico. é uma pontaria minha. nisso também podem apostar.

gostei deste bocado.

olha. está a chover. que raio de tempo! e o que eu ainda tenho para andar...

terça-feira, novembro 14, 2006

primaveras no outono

urbangrey

quando consegui descer as escadas todas do raio do castelo e chegar ao jardim, já o carro dela levantava as pedras da alameda de saída. ou de entrada consoante o caso.

dei comigo a correr atrás do automóvel. como um gaiato. perdi-o de vista claro. era dos de boa cilindrada. nem por isso parei. corri os muitos metros que me separavam da paragem de autocarro. já fora do portão grande.
não avisei ninguém e segui atrás dela. o coração batia-me como um martelo nas artérias. aquelas do pescoço. não aprendi o nome. ainda...a velha não vai deixar que eu pare de estudar.

escapou-se-me várias vezes da vista o carro preto. sorte ter ela de parar para meter gasolina e petiscar. aí ganhei-lhe avanço. a estrada era erma e só parámos perto da cidade. chovia.

urbangrey

segui-a. ia apressada. entrou num prédio velho. estranhei isso. as visitas da casa eram ricas. não pensei muito tempo. queria lá saber disso. queria era vê-la mais de perto. apareceu à janela. tive uma esperança estúpida de que fosse para me ver. devia ter-me sentido a correr-lhe bem nas solas do andar, quando arranjou onde meter o mercedes.

qual quê! fixava atentamente a rua. procurava. esperava. mas não. não era a mim. nem quando olhou na minha direcção me viu.

aquela boca. aqueles olhos. o cabelo! e eu minado por um tremor da cabeça aos pés. tão infantil. como no primeiro dia de escola.

urbangrey.

saiu da janela velha do andar velho. abriu a porta velha e inundou de sol com os cabelos, a tarde chuvosa onde eu, que nem basbaque, escorria água como pato sem penas.

as ondas batiam na amurada e molhavam o passeio. ela ficou lá. olhando o mar. e eu estátua. ali. a vê-la como se olha uma aparição. ou deve olhar.

pior foi ver aproximar-se um meco tamanho gigante que a agarrou pela cintura e a levou dali.

pior foi isso.

depois voltar a pé para o casarão. só tinha dinheiro no bolso para uma passagem de ida. e saíra sem vontade de voltar.

voltei. a macieira estava à minha espera. cheia de maçãs do demónio. a tentar. a tentar.

*
os teus cabelos!

domingo, novembro 12, 2006

com pouco trabalho. no jardim.

Jean-Batiste Dege

consegui concretizar o sonho que me levara até ali, uns tenis nike.

comprei-os bem branquinhos contra a vontade do mulherio de preto. que se danassem! o esforço fora meu. e se o jardim ia devagarinho já o fogo que as incendiava acendia e apagava como um pirilampo noite a noite e mesmo dia a dia.

o mágico era eu.

andava com o ego mais inchado que fígado de bêbado. adiante. nunca me julguei santo e nunca acreditei nos tipos que se fazem disso.

o que eu estava era à beira do enjoo. de morenas. pior: de morenas vestidas de preto. rituais e outras cenas na floresta.

Theater Of Cruelty Noh Assakra

a velha-camafeu, que eu imaginava a arrancar cabeças a bonecas como quem come pipocas. desde tenra infância, lá me deu uma pilha de livros para ler.

como se me sobrasse ainda tempo! sorte era ser novo. sou ainda. mas nem sei como sobrevivi.

urbangrey

foi assim que a vi.. estando eu concentrado na leitura a olhar pela janela da biblioteca as cores de outono. caíram-me os olhos num garfo de árvore.

uma saia de ganga sentara-se no tronco.

nada de preto. só aqueles cabelos! a saia azul o top e a pele branca.

e eu babado a desmaiar de paixão como uma donzela! pronto a matar e a morrer por ela.

foi tiro e queda minha. sem ela sequer olhar para mim...

quarta-feira, novembro 08, 2006

exaustão.

Tatsuya Sato


ao fim de umas sessões de negro todas, comecei a ter saudades da roupa branca estendida à porta, pela louva-a-deus-sebe-se-lá-onde-anda.

vejam só ao ponto a que cheguei. farto de preto.

também valha a verdade não resistia eu muito.

Rui Rocha Reis

era só apagarem as velas cor da roupa e já eu estava com a minha vela em riste a demontrar que saía ao meu pai.

as mulheres não gostam de partilhar parceiros mas gostam de se gabar tanto ou mais do que nós. foi a desgraça aqui deste freguês

Rui Rocha Reis

à noite pertencia às da casa.
as outras investim quando elas não estavam. aprenderam o caminho da estufa e lá começou outra invasão de vinha virgem e hera. o rapaz não tinha mãos a medir.

as vezes que me lembrei de vocês e com saudade. não. não sou um mãos largas mas quase já nem tinha tempo para dormir.

ainda havia a velha a exigir que estudasse. não queria um meio-analfabeto em casa. teria ela sabido desde sempre que eu era da família?

podia ir-me embora. é bem verdade. mas que querem, eu gosto de maçãs!

segunda-feira, novembro 06, 2006

fadas. bruxas.

urbangrey

por essa altura não te conhecia e aos teus olhos e aos teus cabelos cor de chama. devia ter-te adivinhado, mas eu era novo em tudo e de amor nem o som. o cheiro.

*

as outras, até essa noite mulheres apetecidas, mostravam rostos novos.

chegavam em grupo. sorriam. despiam-se. tudo lentamente. tudo em ritual.

e tu não gostavas? perguntarão vocês. vá lá perguntem !
gostar, gostava. mas havia naquilo tudo qualquer coisa que me contraía o estomago. como o medo faz.

um homem não tem medo. pois. conta outra vez essa que eu gostei!

Sabine L

sentaram-se em círculo. nuas. nuas! cantaram coisas numa língua que eu não entendi ou não ouvi bem, da gruta onde estava.

tinham um punhal. velas. insenços acesos. faziam oferendas sei lá eu a quem. de frutos e flores. ah, e tinham água. foi o que no meio de tudo mais estranhei. na missa é vinho. ali era água. por serem mulheres? não. elas bebiam.

mas o pior disto ainda está para vir. quando eu não esperava que houvesse mais nada, levantou-se a minha. a que me levara para me saber lá. e abram a boca: agarrou a lua. entre as duas mãos.

não sei como não dei um grito nessa altura e corri dali.

pensei duas vezes e fiquei no canto. sem entender porquê tinha-me despido. e repetia cada gesto dos que elas faziam.

o que um homem faz com mulheres assim!


sexta-feira, novembro 03, 2006

salto umas investidas.

B.Berenika

na realidade ninguém me tinha ensinado a resistir a fortes tentações. o padre, como pai fora um falhanço. portanto se a fruta se me oferece, estendo a mão a pegá-la. ponto aqui.
passa aí a cerveja. já estou ressequido de falar e vocês vão-me fazer pagar a minha parte.

entretanto, além de cortar o matagal da estufa aprendia-se pouco por ali.


nicole cherubini

excepto a manipular e guardar objectos para lá de inúteis mas bonitos, não me recordo de nada que valha ser lembrado. isto até ao dia em que a mulher vestida de preto, a Eva, (raio de nome!) me deixou um bilhete por baixo da porta a marcar dia e hora no jardim. esperei uma daquelas noites de fundir até ferro.

nada disso. o encontro era no meio da mata. junto ao altar velho na entrada de uma gruta de não sei lá que século. coisa abandonada há muito tempo. antes mesmo de as donas serem elas.

at Opacity

já por lá tínhamos andado em boas fainas. daí não ter estranhado. com imolações daquelas já eu podia bem. pior foi a conversa que seguiu.

- tu hoje, haja o que houver, não fazes nada. assistes porque eu gosto de te saber aqui. mas nem tentes ser visto.

- mas se somos só dois...

- isso é agora. vai para a gruta e fecha a alma a cadeado. a alma e sobretudo a boca. sais só quando eu disser.

e daí em diante só vi chegar mulheres. de preto. todas. eu gosto de mulheres. pois mesmo assim havia pelo ar algo que me assustava. a mim! pode isto ser?


terça-feira, outubro 31, 2006

meios caminhos.

Sabine

no fim não achei graça áquele gesto seco de silêncio e a frase a seguir.

- não aconteceu nada aqui, ouviste? nada mesmo!

rapaz para todo o serviço, pensei eu. mas ainda lhe tinha o paladar na boca e não reagi com a brusquidão que ela merecia. acompanhei-a ao longo do corredor de gelar uma sopa a ferver. isto sem me lembrar que ela era neta da velha-camafeu . a gente não se lembra de nada quando está convencido que funciona bem e é desejado. asneira.

dei-lhe um beijo na testa e fui arrefecer-me para o jardim . aquela cena do beijo casto faria rir até o meu pai-padre.


B. Berenika

estava eu a sentir-me acocorado a meio caminho, quando me veio aquela sensação de estar a ser olhado. pesquisei tanto quanto a falta de luz por ali permitia e dei de caras com a desmaiada do dia anterior a espreitar-me.


Lara Jade

aquilo era mais sofisticado. deu para ver só pela pintura dos olhos e os contornos da boca. vestia tão de escuro como a noite. daí não a ter visto na passagem. o que me queria não fiquei para saber. passou-me sei lá o quê pela cabeça e atirei-lhe um:

- buuuh!

de nem espantar pardais. só para me rir. estava a ficar nervoso com a procura. não me envergonho de o confessar agora. voltei para o quarto e demorei muito a adormecer. tanta água depois de uma vida de secura é no que dá.


segunda-feira, outubro 30, 2006

não eram três.

Sabine L

foi a maior lição desde a chegada. simples como tudo o que é importante: a quarta mulher era parecida comigo.

olhou-me como eu olhei a outra, a que pulou para o alto e que, parecia já ter passado uma eternidade, me desvirginara na casa da minha mãe.

como eu, tinha ar de já ter perdido tudo no acto de nascer. como eu deixara cair os braços limitando-se a uma revolta feita de silêncios parados. como eu. raios como eu! ali nua, sentada no meu quarto. sobre a minha cama. à minha espera.

- sou margarida.

- pois é.

pode-se ser mais parvo na resposta?

como eu, sem jeito mas a olhar de frente. como eu a tresandar desejo até ao portão de entrada ou de saída. que a mim apetecia era carregar com ela e levá-la dali. comigo. para longe. para sempre.

Christiane Pinnekamp

podem rir a vontade. até eu me riria se não me estivesse a arrepiar todo enquanto conto.

eu ali. garanhão de crina ao vento. a ser o primeiro. pela primeira vez.


o trabalho

Rodney

de manhã o velho semi-múmia acendeu-me a luzerna sobre os olhos. não é preciso mais nada para me estragar o dia. pouco tinha dormido.

- vamos a levantar que não vieste cá de férias, rapaz!

dirigi-me à banheira com vontade de lhe ir ao gargalo e apertar. foi aí que percebi o porquê de tanta privacidade. assim não usaria a casa de banho dos patrões, que adivinhava luxuosa. com razão.


Volokin

limpinho já. fui levado pelo velho, à zona nobre do castelo. primeiro encontro com o camafeu.

encontro à distância e ainda bem. é que se lhe vissem o tamanho temeriam como eu, um encontrão com ela.

- vens da parte do meu sobrinho e só por isso deixo cá entrar um rapaz novo.

com que então sou da família e tu nem sabes! - eu a rir cá por dentro. era a minha vingança contra aquela mania de me chamarem rapaz.

- como vens da aldeia começas por limpar a estufa, que foi abandonada quando o meu filho teve a ideia absurda de se mudar para a cidade. de ervas deves saber.

a velha estava a por-me estragado. de ervas entendem carneiros e os burros. lembrei-me dos encontros da véspera e resisti a saltar dali naquele instante.

fui despachado. sua fealdade excelentíssima mal me olhara durante a conversa.


from Opacity

o resto da manhã passei-o na estufa velha.

um belo esconderijo para acabar de dormir.

de salário nem uma palavra! - lembrei-me, antes de cair ferrado com a cabeça sobre uma almofada de hera.

nessa manhã pouco aprendi. valha a verdade. mas ainda tinha todo o resto do dia.

eu tenho sempre de aprender. seja o que for. para isso é que se é novo. ou não será?


sábado, outubro 28, 2006

primeira noite.

Volokin

não é ao acaso que aqueles casarões se dividem em andares. ainda que lá viva pouca gente, é urgente separá-la hierarquicamente.
a última palavra aprendi no barbeiro. num texto sobre a assembleia da república. mas adiante.

o meu quarto era maior que na aldeia mas num esconso. não fosse eu esquecer-me de quem era. tinha ao canto uma banheira só para mim.

pouco ou muito, subia na vida.

quanto a esquecer-me quem era não havia perigo. primeiro que tudo sou homem e enquanto arrumava a pouca tralha pessoal numa arca o quarto iluminou-se.

M Karez

não é força de expressão coisa nenhuma. quase tropecei num rosto de mulher que encandeava com o ohar, ao levantar-me daquela posição patética, dobrada, em que estava para não sujar as calças de fazenda.

gaguejei boa noite e ela a sorrir. nem piu. sorria e prometia qualquer coisa. a si mesma ou a mim?

não sabia nessa altura e não sei hoje ainda. mulher é bicho de muitos mistérios. mas uma coisa fiquei a saber pela noite fora: quem era eu.

homem não haja dúvida. e se frustrado por jantar na cozinha sem a ver, muio decidido a não continuar assim por muito tempo.


This page is powered by Blogger. Isn't yours?