terça-feira, novembro 14, 2006

primaveras no outono

urbangrey

quando consegui descer as escadas todas do raio do castelo e chegar ao jardim, já o carro dela levantava as pedras da alameda de saída. ou de entrada consoante o caso.

dei comigo a correr atrás do automóvel. como um gaiato. perdi-o de vista claro. era dos de boa cilindrada. nem por isso parei. corri os muitos metros que me separavam da paragem de autocarro. já fora do portão grande.
não avisei ninguém e segui atrás dela. o coração batia-me como um martelo nas artérias. aquelas do pescoço. não aprendi o nome. ainda...a velha não vai deixar que eu pare de estudar.

escapou-se-me várias vezes da vista o carro preto. sorte ter ela de parar para meter gasolina e petiscar. aí ganhei-lhe avanço. a estrada era erma e só parámos perto da cidade. chovia.

urbangrey

segui-a. ia apressada. entrou num prédio velho. estranhei isso. as visitas da casa eram ricas. não pensei muito tempo. queria lá saber disso. queria era vê-la mais de perto. apareceu à janela. tive uma esperança estúpida de que fosse para me ver. devia ter-me sentido a correr-lhe bem nas solas do andar, quando arranjou onde meter o mercedes.

qual quê! fixava atentamente a rua. procurava. esperava. mas não. não era a mim. nem quando olhou na minha direcção me viu.

aquela boca. aqueles olhos. o cabelo! e eu minado por um tremor da cabeça aos pés. tão infantil. como no primeiro dia de escola.

urbangrey.

saiu da janela velha do andar velho. abriu a porta velha e inundou de sol com os cabelos, a tarde chuvosa onde eu, que nem basbaque, escorria água como pato sem penas.

as ondas batiam na amurada e molhavam o passeio. ela ficou lá. olhando o mar. e eu estátua. ali. a vê-la como se olha uma aparição. ou deve olhar.

pior foi ver aproximar-se um meco tamanho gigante que a agarrou pela cintura e a levou dali.

pior foi isso.

depois voltar a pé para o casarão. só tinha dinheiro no bolso para uma passagem de ida. e saíra sem vontade de voltar.

voltei. a macieira estava à minha espera. cheia de maçãs do demónio. a tentar. a tentar.

*
os teus cabelos!

Comments:
Doce e quente tentação...

Cheers
 
Parabéns.
Advinha-se uma deliciosa instabilidade.
Ah como gosto de misturas, o agri-doce, a pimenta com laranja (maçãs sevem perfeitamente).
 
mais um salto de pura "magia" ... assalta banques!
 
Nem sempre acontece o "happy end"!
Gostei do ritmo da narrativa.
 
hum...sempre agitado rapaz!!!!

(e eu a vir cada vez mais tarde, mas só falho se não puder!)

boa noite
 
Muito bela a imagem:
«...a tentar. a tentar.
os teus cabelos»

Obrigada pela visita ao meu espaço.
Eu voltarei:)
Abraço.
 
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