terça-feira, outubro 17, 2006
não quero.
sou pobre mas não quero. é decisão. os pobres não se vêem ou apagam-se . confundem-se com a paisagem. com o musgo e o mofo de paredes e das árvores. até com o cinzento escuro da invernia.
o primeiro ordenado decidi que não ia dá-lo à minha mãe para gastar nas coisas que se comem.
fui à loja grande, a única que vende tudo, perto da minha aldeia e comprei uns ténis nike. deixei encomendado um blusão para o mês seguinte. tinha de encontrar um emprego melhor para o pagar. era preto e luzidio. cheirava a animal de raça.
almocei na pensão. a vista paga-se. tudo se paga neste mundo. tudo. comi bebi olhei a água a correr lá em baixo como se fosse um príncipe. paguei.
era príncipe que eu queria ser. mas não ali. noutro lugar. onde não me chamassem filho do padre. sem eu saber porquê. só por chamar. só para me obrigar a fazê-los engolir o insulto a murro.
foi nesse dia que decidi que tinha de saber de onde isso vinha. saltei dali para fora decidido a falar com o padre e a minha mãe.
havia que a calar por não levar dinheiro.
Comments:
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saltimbanco:
independente do texto muito bom, impressiona-me sobremaneira as imagens que usas aqui. essa em especial é extraordinária (a em preto e branco). elas deixam de ser o suporte do texto e passam a ser o texto.
beijos
dellla
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independente do texto muito bom, impressiona-me sobremaneira as imagens que usas aqui. essa em especial é extraordinária (a em preto e branco). elas deixam de ser o suporte do texto e passam a ser o texto.
beijos
dellla
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